Relações Abusivas – Não se Escolhe entrar, Não é Fácil Sair

Quando se inicia um relacionamento, as pessoas geralmente tentam mostrar o melhor de si. Na intenção de encantar, conquistar, seduzir seus parceiros, tudo vale para fazê-los crer que encontraram alguém especial, dentro de suas expectativas emocionais e românticas. Com o tempo, na medida em que a relação alcança níveis de intimidade, previsibilidade e segurança, os parceiros sentem-se mais confortáveis diante do outro, se sentem amados, aceitos e conseguem então expressar características mais pessoais e íntimas. A relação toma uma forma mais harmônica como “nós dois somos um” e os pares em geral podem viver uma realidade mais próxima do “eu familiar”.

Nesse momento, dependendo da saúde mental e psíquica de cada um, a relação pode se tornar um ambiente de projeções saudáveis ou virar um campo onde os parceiros viverão cenários perversos, sádicos, abusivos.  Isso ocorre na medida em que a relação passe a ser um depósito de descargas neuróticas, recalques, sentimentos deslocados, fúrias reprimidas, entre outros traumas mal resolvidos de seus parceiros.  Ambos passam a desempenhar papéis representativos e a relação é cruelmente designada a servir aos sintomas daqueles que inconscientemente projetam suas cargas emocionais naquele que justamente dizem amar.

                                

Numa relação abusiva pode-se dizer que todos os envolvidos estão acometidos psicologicamente e que há um dominador e um dominado. Ambos sempre estão repetindo e vivenciando cenas traumáticas passadas e reprimidas de suas histórias, as quais não foram devidamente elaboradas ou resignificadas suficientemente ao ponto de não terem que ser reproduzidas e revividas em suas relações amorosas. Com isso, um parceiro dominador e abusivo projetará suas mágoas, frustrações, raiva, inveja, complexos, medo, insegurança, culpa, ressentimentos, entre tantos sentimentos recalcados no seu parceiro, gerando códigos comportamentais de violência verbal e física, injúria, calúnia, ciúme excessivo, ameaça, perseguição, humilhação, violação da privacidade, invasão da intimidade, constrangimento público, brigas sem razão, acusações irracionais, ou até mesmo jogos sutis de desvalorização e baixa auto-estima do parceiro. E o parceiro dominado se fará refém dessa ordem de abusos muitas vezes sem se reconhecer. O dominado se submete aos abusos a partir de um envolvimento emocional histórico onde, na sua vida pregressa, esse tipo de código já fez algum sentido e estar submisso aquele tipo de amor, lhe inscreve num lugar que lhe ofende, mas também lhe garante afeto.

Sendo assim, muitas vezes as relações não se tornam o que queremos, mas o que as neuroses obrigam que se transformem. O pior que uma relação pode fazer é corromper uma pessoa, tornando-a algo que não quer ser ou não gosta de ser para poder se sustentar na relação e não perdê-la.  Sempre reflita sobre o custo de uma relação. E principalmente sobre o medo de ficar sozinho. Em geral esse medo é uma fantasia que não lhe permite perceber o seu grau de emancipação e crescimento nem sua capacidade de evoluir e mudar.

Acima de tudo perceba que para viver uma relação saudável é fundamental estar psiquicamente bem, emocionalmente equilibrado e consciente, para não fazer dos parceiros, figuras projetivas de suas histórias inacabadas.

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